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Mística Contemporânea

Resumo de parte do terceiro subtítulo (Mística: experiência, prática e linguagem do amor) e do quarto subtítulo (Mística contemporânea: caminho contracultural) do artigo que está na Enciclopédia Digital Theologica Latinoamericana

A mística cristã é uma experiência profundamente enraizada no Espírito Santo, que se manifesta em s quatro palavras essenciais: "Abba, Pai" e "Senhor Jesus". Essa experiência conduz o místico a seguir a trajetória histórica e encarnada do Filho, culminando na revelação de sua Ressurreição como plenitude da vida eterna.

Diferente de uma espiritualidade que rejeita o mundo, a mística cristã está intrinsecamente ligada à realidade humana e à materialidade da existência, pois o Espírito não foge do mundo, mas o santifica e vivifica. Ele não se confina ao interior do indivíduo, mas expande-se, levando o crente a sair de si mesmo em direção ao outro, num movimento de doação que reflete o próprio dom do Espírito.

Assim a experiência mística assume uma dimensão ética, pois não é a busca da beleza ou da verdade em si mesmas que estão seu cerne, mas sim o amor ativo: o amor a Deus e ao próximo. A vida no Espírito é, portanto, um compromisso concreto com as obras de justiça e solidariedade, unindo espiritualidade e transformação histórica. Em um mundo que muitas vezes reduz o transcendente ao consumo ou ao intimismo, a mística contemporânea surge como uma força contracultural, resgatando a profundidade da existência humana e desmentindo a acusação de que ela seria alienação.

Num contexto marcado pelo consumismo, individualismo e injustiça, a mística propõe um caminho radicalmente oposto: em vez da acumulação, o dom gratuito; em vez da autonomia egoísta, a receptividade humilde; em vez do poder, a solidariedade com os vulneráveis. Ela inspira figuras como Etty Hillesum, que desejou ser "bálsamo para todas as feridas", ou Oscar Romero, que assumiu a dor do seu povo. Em uma cultura de violência e exploração, a mística coloca o místico ao lado das vítimas, recusando os privilégios dos opressores e buscando uma paz que não é mera ausência de conflito, mas justiça restaurativa.

Diante da crise ecológica, a mística também aponta para uma comunhão com a Terra, como testemunharam Thomas Merton e Teilhard de Chardin, tratando-a não como recurso a ser explorado, mas como lar a ser cuidado. Assim, a mística contemporânea se revela não como fuga, mas como engajamento radical — um chamado a viver o amor de modo tão concreto que ele se torne, nas palavras de Cavanaught, "eucaristia distribuída em alimento para todos". Nesse sentido, ela é uma crítica viva à sociedade e um convite a uma humanização plena, onde a espiritualidade e a ética se fundem em prol da vida em sua totalidade.