«Os gregos tinham duas formas de fazer menção ao tempo. Diziam Chronos - considerado por eles um deus cruel que devorava sem trégua a vida - quando queriam se referir ao tempo como uma sucessão infinita e sempre igual de segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos..., séries que podem ser medidas no cronômetro, inscritas no calendário ou controladas no relógio. Diziam, porém, Kairós quando queriam expressar um momento especial, uma oportunidade singular, uma ocasião ímpar. É o que São Paulo chama de "tempo favorável" (2Cor 6,2): uma oportunidade única que a graça de Deus nos oferece e nós podemos aproveitar ou não.
Para nós, seres humanos, que cultivamos a dimensão simbólica da vida, os dias não são iguais. Embora, na sucessão do chronos, sempre se repitam as horas, os dias da semana, os meses do ano..., cada tempo é diferente. No Jubileu, o kairós irrompe em meio ao chronos!
Pensemos, particularmente, no domingo. Ele não é um dia como outro. É - ou deveria ser - o dia do Senhor, quando fazemos uma pausa no ritmo cotidiano para dedicá-lo a Deus, ao descanso e ao convívio familiar. É dia de ser gente por inteiro, sem se preocupar com o trabalho, com o sustento ou com o lucro.
Hoje, infelizmente, escravizados pelo mercado neoliberal, já não podemos guardar o domingo. Temos, muitas vezes, de acolher e aceitar a folga semanal quando ela nos é dada e se nos é dada, pois muitos cristãos que têm seu próprio negócio já não conseguem, nem eles mesmos, guardar o dia do Senhor.»
Este texto é do pe. Jean Poul Hansen, e eu copiei do folheto de missa da Paulus nº 23, ano 93, do dia 04/05/2025, no terceiro Domingo da Páscoa