O FBI prendeu Hannah Dugan, uma juíza do condado de Milwaukee (Wisconsin), acusada de obstruir uma operação federal para deter o imigrante indocumentado Eduardo Flores Ruiz. Segundo o Departamento de Justiça, ela teria conduzido o homem por uma saída alternativa do tribunal enquanto agentes aguardavam para prendê-lo, além de confrontá-los. A ação é uma escalada no conflito entre Trump e o Judiciário, com a Casa Branca pressionando autoridades locais a não interferirem na sua política de deportações em massa. Parece que ela foi solta logo depois mas, na prática, foi presa por resistir à política anti-imigratória de Trump e não por ter cometido um crime ou alguma imoralidade.
A necessidade de proteção a um imigrante durante um processo judicial reflete bem a tensão entre jurisdições estaduais e federais de lá: o governo de Trump já ameaçou processar autoridades que desafiem as suas políticas imorais, transformando coisas como o FBI em um instrumento de perseguição política, como criticou o prefeito de Milwaukee, David Crowley.
É necessário ter solidariedade com o povo estadunidense, especialmente sob o governo de um proto-ditador como Trump, apesar da história dos EUA como opressor global - desde as intervenções na América Latina às guerras no Oriente Médio, por exemplo - e muitas vezes anti-democrático. Se regozijar pelo atoleiro em que eles se enfiaram elegendo a extrema-direita pela segunda vez só fortalece essa ideologia, que além de democracia, exclui a solidariedade e a empatia.
Este projeto de ditadura de Trump não é nenhuma novidade no mundo, basta ver colegas dele como Maduro ou Orbán, por exemplo, que impõem políticas à força e usam o Estado para sufocar a oposição. A diferença é a competência do disfarce: nos EUA, a repressão se veste de "lei e ordem", enquanto em outros casos a máscara é mais frágil (ou talvez a repressão seja só mais descarada). Em todo caso o objetivo é o mesmo: consolidar o poder a pretexto de proteger a nação de "inimigos" que quase sempre são imaginários, mas como o poder estadunidense é maior que do que o dos países dos outros autoritários, este projeto proto-ditatorial está em uma vitrine muito mais visível e chamativa do que a dos outros.
Por isso que, além da solidariedade, é necessário também prestar a atenção ao que acontece lá, porque esses métodos vão ser anotados pela extrema-direita tupiniquim, como num manual, mesmo que depois eles adaptem às condições locais (como já fizeram e continuam fazendo, aliás). Por aqui o bolsonarismo e seus herdeiros políticos já flertam com o autoritarismo trumpista, mesmo que pareçam caricaturas (se bem que a violência policial e o desmonte do estado de um governador como Tarcísio, que vestiu o boné do MAGA quando o Trump venceu a eleição, são cópias menos caricaturais e mais fidedignas, mesmo que pouca gente aponte as semelhanças).
No fim das contas parece um circo que se degradou, com coisas grotescas misturadas a patetices engraçadas, mas esta história da juíza presa mostra como a repressão não chega sempre com botas e farda, porque às vezes vem de terno e gravata, com todas as formalidades legais cumpridas, e usando um nariz de palhaço com um chapéu do MAGA.